Cedra, que já recebeu aportes de R$ 105 milhões, foi tema de um painel nesta sexta-feira (5), na arena do governo do estado, durante a Expointer
Foto: Lucas Machado
Transformar o Brasil em um país autossuficiente em novas tecnologias para o agronegócio, capaz de gerar patentes e desenvolvimento econômico e social, diminuindo a importação de tecnologia e aumentando a exportação e o protagonismo da ciência brasileira. É com esse objetivo que o Sistema FIERGS, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), desenvolveu o Center for Embedded Devices and Research in Digital Agriculture (Cedra). O projeto, que já recebeu aportes de R$ 105 milhões, foi tema de um painel nesta sexta-feira (5), na arena do governo do estado, durante a Expointer.
O gerente de Inovação e Tecnologia do Senai-RS, Victor Gomes, afirmou que o centro se diferencia pelo investimento em tecnologias de alto risco e impacto para o agronegócio (deep techs), representando uma mudança de mentalidade no setor. “Caminhamos pela Expointer e vemos tudo que é produzido aqui. Tudo que exportamos. Mas quando paramos para analisar a tecnologia por trás do que produzimos, o quanto é nacional? Essas novas tecnologias que estamos desenvolvendo, às vezes, nem têm nome ainda. Como vou investir tempo, energia e recursos financeiros para desenvolvê-las? Precisamos trabalhar em conjunto com empresas e atores do mundo inteiro.”
O Cedra atrai cientistas de dentro e fora do país em diversas áreas porque, segundo Gomes, a agricultura exige conhecimentos além da lavoura. “Atraímos doutores em eletrônica, materiais e biologia, junto com várias universidades no Brasil e no exterior. E quando falo de agricultura, falo de um mundo, desde comunicação satelital até biossensores”, explicou.
A pesquisadora do Cedra Betty Braga é uma das profissionais que atua com biossensores, área que monitora as plantas para saber quais nutrientes elas necessitam. Segundo Betty, um dos mercados que podem ser explorados dentro da estrutura nesse âmbito é o de fertilizantes, uma vez que o Brasil importa cerca de 80% do que é necessário para a produção agrícola. "Somos altamente dependentes de outros países nesse mercado e com a pesquisa podemos tornar o Brasil mais protagonista", apontou.
Segundo o gerente-executivo do Cedra, Bruno Trasatti, o centro também é uma oportunidade para pesquisadores de alto nível trabalharem no Brasil e na iniciativa privada. "Queremos trazer os doutores para a indústria, gerando soluções concretas para o agro", destacou. Conforme a pesquisadora associada do Cedra Camila Costa Dutra, outro objetivo é aproximar as universidades. "A ideia é trazer o que fazemos na universidade para esse centro, aproximando universidades do estado, do Brasil e do mundo para transformar pesquisas em negócios", complementa.
SOBRE O CEDRA
Sob o lema “tratar a ciência como negócio”, o centro tem sua sede técnica atual no Instituto Senai de Inovação em Sistemas de Sensoriamento, em São Leopoldo, onde atua desde o ano passado, e em breve ocupará também um novo espaço junto à sede da FIERGS, em Porto Alegre.
O Cedra funciona como uma associação tecnológica: empresas pagam uma anuidade para acessar o ecossistema de inovação e influenciar a direção das pesquisas. Atualmente, conta com sete indústrias associadas: Bosch, Zasso, Agrosystem, Novus, Exatron, Falker e Fockink. Além disso, o Cedra tem 48 profissionais envolvidos nos projetos.
O QUE DIFERENCIA UMA DEEP TECH?
As deep techs nascem da pesquisa científica e da engenharia avançada, em áreas como biotecnologia, inteligência artificial e computação quântica, e desenvolvem soluções disruptivas capazes de transformar setores inteiros. Diferentemente das empresas de tecnologia tradicionais, possuem ciclos longos de desenvolvimento e exigem investimentos elevados.

